sexta-feira, 23 de março de 2007

Na Cova do Lobo


Há dias, apeteceu-me ver António Lobo Antunes e fui ao 'site' da RTP rever a entrevista que deu a Judite de Sousa. E recordo agora uma das suas frases. Quando questionado sobre se era católico, Lobo Antunes respondeu que "Na cova do Lobo, ninguém é ateu". Sábio.

Tenho tantos livros à espera de mim, tantos e tanta falta de tempo. O último de Lobo Antunes, "Ontem Não Te Vi em Babilónia" é um deles. O dia não chega, as horas são poucas, viverei o tempo suficiente para conseguir ler tudo o que gostaria. Ter um livro e o prazer de o ler é a melhor forma de não sofrer com a solidão. Mas, é preciso ganhar esse hábito. Não me esqueço disso quando olho para a minha filha. Não se ganha o hábito da leitura aos 50 anos. Ensiná-la, desde já, a disfrutar, a devorar, a amar um livro, permitir-me-á morrer mais sossegada. Acredito que os livros a ajudarão nos momentos mais difíceis, quando um dia eu já não a puder ajudar.

Empresas tóxicas

Existem tantas, cada vez mais. Empresas que exigem dos seus trabalhadores mais do que eles podem dar, que pressionam a cada minuto para que estes atinjam novos e cada vez mais ambiciosos objectivos, que cansam, que stressam, que ambionam, sem dar meios e sem ter em conta os limites de cada um. Que arrumam a um canto os que, enquanto aguentaram, eram tidos como imprescindíveis. E que, sempre que necessário, encontram novos imprescindíveis. Empresas tristes.

Desligar a OPA

Paulo Teixeira Pinto vai entrar, na CMVM, com o pedido de registo da OPA que lançou sobre o BPI. E vai manter, nesta fase, a contrapartida inalterada. Ou seja, continuará a propor aos accionistas do BPI que vendam as suas acções por 5,70 euros cada.
A OPA está, a crer na oposição do La Caixa, do Itaú e da Allianz, completamente morta. Mesmo perante uma revisão do preço, ainda que considerável, as probabilidades de sucesso são poucas. O mercado aguarda apenas que a máquina seja desligada. Mas, o presidente do BCP recusa-se a admitir a morte da oferta. O que se passará na cabeça de Paulo Teixeira Pinto, o que sentirá perante tamanha resistência? Será que desistir já lhe passou pela cabeça?

quinta-feira, 22 de março de 2007

Ana Carolina

Não resisto a transcrever estas frases de uma das faixas do último CD de Ana Carolina "Dois Quartos":

Você pode me ver do jeito que quiser
Eu não vou fazer esforço para te contrariar
De tantas mil maneiras que eu posso ser
Estou certa que uma delas vai te agradar

(...)

Se teu Santo, por acaso, não bater com o meu
Eu retomo o meu caminho e nada a declarar
Meia culpa, cada um que vá cuidar do seu
Se for só um arranhão, eu não vou nem soprar

Porque eu sou feita para o amor da cabeça aos pés
E não faço outra coisa do que me doar

Recomendo.

Viva Manuel Pinho

Senhor ministro Manuel Pinho, dirijo-me para lhe confessar uma coisa. O senhor tem um dom raro de me conseguir surpreender a todo o instante. Quando penso que já nada que faça me conseguirá fazer mexer um único músculo da cara, 'voilá', o ministro derruba-me. Desisti, senhor ministro. Depois da do Allgarve, grande medida para promover a região algarvia no estrangeiro – esta foi de mestre, muito bem! –, admito a derrota. Nem a minha rica filha, que só tem cinco anos, conseguiria fazer melhor. E olhe que ela bem que se esforça.
É assim, não há nada a fazer. Rendo-me às evidências. A partir de agora é que vai ser. Nada fará parar o Algarve, ai desculpe, Allgarve, até agora, uma região completamente desconhecida dos estrangeiros. É por estas e por outras que não consigo entender alguns 'opinion makers' que insistem em criticá-lo. Francamente! Bem, verdade seja dita, que a maior parte já dá o dito por não dito. Finalmente, admitiram que o senhor foi feito para o lugar, que, afinal, demorou, mas adaptou-se à cadeira de ministro. José Sócrates é que sabia e a sua determinação, mais uma vez, deu resultados. Mal posso esperar pelas suas próximas medidas, igualmente brilhantes, estou certa, para continuar a dinamizar o sector do turismo em Portugal. Não me leve a mal algumas sugestões e se, porventura, já tiver pensado no assunto, por favor, não leia. O que acha de Allentejo, Oporto e Lisbon? Poderiam ser óptimas soluções, perdoe-me a imodéstia, para aumentar a ocupação dos hoteis e, ainda por cima, com estas adaptações inglesas, o mais certo é conseguir chamar o turista de qualidade. Força, senhor ministro. Sem si, o que seria deste país à beira-mar plantado. Um bem haja, da sua admiradora.

terça-feira, 20 de março de 2007

Sucessão

Belmiro de Azevedo anunciou hoje que o seu sucessor na presidência do grupo Sonae será o seu filho, Paulo Azevedo. Uma decisão acertada e justa. Paulo Azevedo foi o rosto da derrota na OPA que lançou sobre a PT, mas não foi o único responsável pelo insucesso. Nem tão pouco o mau resultado obtido anula a sua competência, capacidade de trabalho e tenacidade, características que revelou ter enquanto gestor. Belmiro de Azevedo não deu a cara no dia-a-dia da oferta, mas nenhuma decisão terá sido tomada sem o seu conhecimento. Aliás, a palavra final terá sido, por uma questão de lógica, sempre sua. Aliás, a inabilidade de Belmiro de Azevedo na gestão política deste 'dossier' e a tendência para a litigância, a que nos habitou, terão pesado contra o seu projecto. Admito que, bem ou mal, a inflexibilidade na oferta de 10,5 euros por acção e nem mais um cêntimo tenha sido, aliás, uma imposição sua. Mais uma vez, a disciplina, que fez da Sonae o mais importante grupo industrial pós-25 de Abril, imperou. No final, o Governo optou: preferiu o BES e seus 'satélites', reunidos num 'diz que é uma espécie de núcleo duro', a Belmiro de Azevedo. O tempo dirá se a a decisão foi acertada, porque a PT irá, com certeza, ser submetida, a novas e, porventura, mais árduas provas.Mas, voltando à questão da sucessão. Discordo dos que criticam esta escolha e que acusam Belmiro de Azevedo de escolher o filho, por isso mesmo, em detrimento de Ângelo Paupério, ou Nuno Jordão, ambos gestores do grupo com vastas provas dadas ao longo de muitos anos de Sonae. Se até aos olhos de rivais e opositores, Paulo Azevedo consegue mais do que palavras simpáticas e frases de circunstância, estranho seria que aos olhos do pai, tudo fosse diferente. Neste caso, Belmiro de Azevedo conseguiu o melhor de dois mundos: Paulo Azevedo é o filho, mas também o gestor profissional. Um verdadeiro e genuíno 'Homem Sonae'. Que pai seria capaz de tirar a um filho como Paulo Azevedo a possibilidade de tentar desenvolver e liderar o projecto da família?

domingo, 18 de março de 2007

António Lobo Antunes

Poucos dias depois de ter pensado este blog, de ter escolhido o seu nome, de ter destacado uma imagem de uma obra de Hopper e uma frase de António Lobo Antunes, foi dada a notícia de que o escritor português tinha recebido mais um prémio, o Prémio Camões. Uma coincidência feliz. Com a certeza que só escreverei alguma coisa quando e porque me apetece, será um prazer estrear-me com António Lobo Antunes. Sendo indiscutível a sua arte e mestria, Lobo Antunes é, acima de tudo, uma personalidade fascinante. É a ânsia de o conhecer um pouco mais, por muito pouco que seja, que me faz ler os seus livros. Por vezes com dificuldade e até algum sacríficio, mas sempre com a segurança de que, no final, valerá a pena. É com a mesma convicção com que explico à minha filha de cinco anos que tem que comer a sopa para crescer, que me convenci a ler António Lobo Antunes. Com a convicção que vou ficar mais crescida, que me vou conhecer melhor. Crescer não é fácil, exige sacrifícios e até sofrimento. Mas ler António Lobo Antunes não é um acto de masoquismo. Não. É um prazer que se adquire aos bocadinhos, até que, quando se dá por isso, já é tarde demais, porque já se tornou num vício. Mas sem nunca se tornar numa obsessão. O seu amor e generosidade não podem ser desperdiçados.