segunda-feira, 30 de abril de 2007

Eduardo Sá


Por coincidência, hoje vi, pela primeira vez, a rubrica "Livro de Reclamações" no Jornal da SIC com Eduardo Sá. O tema era o enamoramento na infância. Como mãe, fiquei curiosa e deixei-me ficar.

Em geral, tenho reservas em relação aos psicólogos mediáticos e Eduardo Sá, hoje, conseguiu agudizar ainda mais esta minha teimosia. Num tom de voz enfadonho, invariável e excessivamente doce e com dificuldades em expressar-se – a jornalista Raquel Marinho completava-lhe os raciocínios – o psicólogo lá tentou convencer os pais que é muito importante para o futuro dos seus filhos compreenderem a importância dos seus primeiros beijos e dos seus primeiros amores.

Para enfatizar esta sua doutrina, Eduardo Sá esgrimiu uma série de conselhos e de lugares comuns. Às tantas, brincou, acho, e disse que deveriam ser impedidos de entrar na Universidade os que nunca tivessem escrito uma carta de amor

Santa paciência. Será que é com paternalismo bacoco que Eduardo Sá pretende ensinar os pais a entenderem os filhos? Dispenso.

Valeram os miúdos, que, corajosamente, explicaram-me em frente às câmeras, de forma ternurenta, como se sente hoje o amor na infância. Há 30 anos, não era muito diferente, mas é sempre bom recordar.

domingo, 29 de abril de 2007

O rosto da derrota


A ausência de emoção num rosto assusta-me. E, admito, foi isso o que mais me impressionou quando vi Paulo Teixeira Pinto. Na primeira vez, pensei que era fruto das circunstâncias. Afinal, tinha acabado de assumir a liderança do maior banco privado português. O fardo de suceder a Jardim Gonçalves era pesado para qualquer um.

Passaram-se muitos meses sem que nada mudasse. Mas hoje, mais de um ano de OPA depois, o seu olhar parado já me inspira confiança. A verticalidade com que sempre deu a cara por uma derrota anunciada, que está longe de ser apenas sua, é merecedora de respeito.

O que escrevo não é fruto da piedade que os derrotados frequentemente inspiram. Jardim Gonçalves entregou a Paulo Teixeira Pinto uma missão impossível e sabia disso. Ficar-lhe-ia bem, senhor engenheiro, voltar a aparecer em público para assumir a sua derrota. É o seu o principal rosto deste fracasso.

quinta-feira, 26 de abril de 2007

O cancro

Sobre o cancro não é preciso dizer grande coisa porque, infelizmente, muita gente já viveu a doença, pessoalmente ou através de familiares e amigos. Falta a vacina, a cura.

Não quer isto dizer que se deva ignorar o assunto, mas também já me parece excessivo o espaço que lhe tem sido dedicado, recentemente, por alguma imprensa.

O novo 'DN' parece ter criado uma nova secção. Agora, para além da Política, Economia ou Desporto, existe a do Cancro.

E, duas semanas depois de António Lobo Antunes ter assumido a doença na sua habitual crónica na 'Visão', eis que a revista faz capa com os testemunhos dos que sobreviveram à doença.

Correndo o risco de estar a ser injusta, não consigo evitar suspeitar destes critérios editoriais.

quarta-feira, 25 de abril de 2007

Os jovens e o 25 de Abril

Os jovens que nasceram depois do 25 de Abril de 1974 não têm, como é óbvio, qualquer espécie de memória do Dia da Liberdade. A experiência de vida confere sempre mais valor a um acontecimento e quem já sentiu a falta de algo mais facilmente lhe dá importância. Trivialidades que só servem para entender que quem viveu o 25 de Abril sente de forma diferente, mais intensa, tudo o que passou, do que quem ainda nem sequer tinha nascido.

Mas estas banalidades são incapazes de justificar o afastamento, a displicência e muitas vezes a ignorância com que alguns jovens, dizem que a maioria, lidam com o 25 de Abril.

Não é preciso ter nascido antes de 1974 para saber como era, para imaginar o que sentiam os pais cujos filhos eram enviados para a guerra, o que podia acontecer a quem manifestasse uma opinião discordante, enfim, o que era viver em ditadura.

A história não é só passado, não é apenas uma disciplina à qual é preciso ter positiva. A leitura da história de um país, do que fomos, faz parte do nosso presente e ditará o nosso futuro. Como na nossa vida, é pelo que já vivemos que decidimos o que vamos fazer.

Se aos jovens, o 25 de Abril não diz nada, algo de muito estranho se passa. Grande parte da responsabilidade será, seguramente, dos seus pais e avós, que não souberam transmitir a mensagem. Verdade seja dita que, ainda hoje, se sentiu o cheiro a mofo no Largo do Carmo.

Os ricos não precisam nem querem explicar o que foi, os remediados vivem o dia-a-dia a pensar na subida dos juros, ou na melhor forma de conseguir comprar o último modelo de telemóvel (o plasma, então, seria o cúmulo) e os pobres o que querem é que o dinheiro chegue até ao fim do mês. Os miseráveis, esses, nem sequer têm 25 de Abril.

É esta geração de futebol e telenovelas, que só se lembra de 1974 uma vez por ano, que é responsável por explicar aos jovens o que se conquistou há 33 anos. Se não foram capazes, depois não se queixem.

segunda-feira, 23 de abril de 2007

domingo, 22 de abril de 2007

Votar

O nível de participação dos franceses, nesta primeira volta das eleições presidenciais em França – cerca de 85% –, não se verifica, em Portugal, desde as eleições legislativas de 1980. Desde esse ano, a abstenção no nosso país tem vindo a aumentar, mostrando um claro afastamento dos portugueses em relação à política. A desilusão, a descrença nos partidos políticos, o facto de PS e PSD se parecerem cada vez mais até pode justificar este comportamento dos eleitores, mas não deveria ser tudo isto a motivar uma maior participação dos portugueses?

Eeleições em França




Da primeira volta das eleições presidenciais em França, existem, para já, dois factos positivos a destacar: a participação massiva do eleitorado – mais de 85% dos eleitores votaram – e a derrota da extrema direita de Le Pen.

Muitos defeitos são apontados aos franceses, mas uma coisa é certa: são e muito provavelmente continuarão a ser por muitos e bons anos um exemplo de cidadania para a Europa. Também é por isto que se diferenciam os países.

A vitória de Nicolas Sarkozy, nesta primeira volta, já se previa, mas os cinco pontos de diferença face a Ségolène Royal deixam tudo em aberto para 6 de Maio. Mas o povo francês já mostrou que quer escolher. Ai Portugal, Portugal...

quinta-feira, 19 de abril de 2007

Obra do Acaso

Após o escândalo do Central – Banco de Investimento, o socialista José Lemos consegue, finalmente, ressurgir das trevas. E pelas mãos dos espanhóis da Prisa, que controlam a Media Capital, a dona da TVI e do Rádio Clube Português. Quem espera sempre alcança. Lemos levou com a mão pesada do Banco de Portugal, que detectou uma série de irregularidades naquela instituição do grupo Crédito Agrícola, entretanto extinta, e foi alvo de um processo de contra-ordenação, tendo-lhe sido aplicada uma coima e a imposta a inibição do exercício de actividade em instituições financeiras. Depois de ter recorrido desta decisão, já lá vão mais de seis anos, ainda se aguarda por uma decisão dos tribunais (o costume), mas o regresso à vida empresarial já está garantido. Juntamente com Pina Moura, outro socialista, Lemos integrará a administração de uma empresa cotada na bolsa de Lisboa. Nada mau. Os espanhóis da Prisa demoraram, mas conseguiram encontrar em Pina Moura e José Lemos a excelência da gestão. A partir de agora, poderão dormir descansados. A Media Capital está em boas mãos. Obra do acaso.
O social-democrata Tavares Moreira, antigo companheiro de José Lemos no Central – Banco de Investimento, igualmente castigado pelo Banco de Portugal, é que não teve tanta sorte. Porque será?

quarta-feira, 18 de abril de 2007

António Lobo Antunes

Amanhã sai a Visão e aposto que António Lobo Antunes lá estará com a sua crónica, a sua "piscina para crianças, onde a água não chega à cintura", aqueles textos que, acredita o escritor, não afogam. É nestes textos, nos seus livros que respiro.

terça-feira, 17 de abril de 2007

Não há desculpas

É verdade que ao lado dos problemas do país e da necessidade urgente de os resolver, a polémica do canudo de Sócrates parece uma coisa menor. Mas daí a enterrar este imbróglio por causa da presidência portuguesa da União Europeia, do défice, da reforma da Administração Pública, ou do desemprego, etc., é demais. Mesmo sendo indiscutível o desastre que seria uma nova crise na governação do país. É sobre o carácter do primeiro-ministro que existem dúvidas. E ainda que, até prova em contrário, Sócrates seja tão honesto como antes de estalar o caso da Universidade Independente, seria um absurdo deixar o assunto morrer e pedir aos jornalistas que, em prol da estabilidade política e económica, fechassem os olhos e tapassem os ouvidos. De consciência tranquila, Sócrates agradecerá uma investigação aprofundada e independente.

Virginia Tech


"Na manhã de ontem Cho Seung-Hui, 23 anos, entrou na Universidade de Virginia Tech, onde estava a terminar uma licenciatura em Inglês, vestido com um casaco de couro preto, um boné na cabeça e fortemente armado. Poucas horas depois, a polícia encontrou o seu corpo entre os de outras 32 pessoas. Matou-as a tiro, antes de se suicidar, sem que se conheça ainda o que o motivou". Público.pt, 17 de Abril de 2007.

Primeiro, o horror. Logo a seguir, a dúvida: porquê outra vez nos Estados Unidos? E depois o medo, qualquer dia poderá acontecer aqui mesmo ao lado. É também por isso que este crime não nos pode deixar indiferentes. É urgente perceber as razões destes jovens que matam em série, que disparam de forma cega, que parecem encontrar neste crime hediondo a única forma de tentar resolver os seus problemas e angústias. Jovens estudantes que pegam numa arma para matar não importa quem, apenas quantos. Quantos mais, melhor. Não será a maldade pura a motivar a maior parte dos que desatam a disparar como se não houvesse amanhã (Ou será?). São doentes? Mas doentes do quê? Doentes porquê? Alguém me responde, por favor!

PS. E estes criminosos devem ser mostrados ao Mundo, com direito a nome, fotografia e perfil. Escondê-los, negar-lhes tempo de antena conseguirá evitar que outros façam o mesmo? É necessário ver para tentar entender. Parece prosperar, nos últimos tempos, entre alguns jornalistas, uma espécie de auto-censura moralista que irrita.

domingo, 15 de abril de 2007

António Lobo Antunes

"Por vezes penso que os escritores são como as piscinas. Há piscinas para crianças, onde a água não chega à cintura, e depois estão as outras , e nesses textos [Crónicas] a água não afoga. São coisinhas para me divertir".

António Lobo Antunes, 'Conversas com António Lobo Antunes', María Luisa Blanco

O novo Diário de Notícias

Leitora assídua do Diário de Notícias, foi com curiosidade que folheei o novo jornal na sexta-feira, dia 13. Depois de uma primeira olhadela, encolhi os ombros. OK, está mais arejado, com grandes fotografias, textos mais pequenos, muita cor, detalhes engraçados, enfim, adaptou-se ao que os leitores querem e em linha com o que o seu concorrente mais directo, o Público, já tinha feito.
Logo a seguir, mais focada e através de uma visita guiada, apercebi-me daquilo que quem não faz jornais quase nunca se apercebe. Na primeira página, Sócrates e Cavaco juntos – o DN fala do 'poder' e com o 'poder'. A grande foto da desilusão benfiquista após o afastamento da Taça UEFA. O detalhe do crocodilo que ataca – a mão de um homem dentro da sua bocarra –: "Veja o que aconteceu ao dono desde braço". A primeira dupla de páginas repleta de rostos e citações. Na página 7, a opinião da suposta mulher de Sócrates, a jornalista Fernanda Câncio. Na 9, a realidade, o dia-a-dia espelhado num violento acidente automóvel. E, nas páginas seguintes, uma enxurrada de notícias de crimes e tragédias. Muitas, demasiadas. E, não esquecer, um suplemento dedicado ao desporto, onde o futebol, desporto-rei, tem um lugar de destaque. Não encontrei, com excepção de António Vitorino, ninguém cuja opinião me tivesse suscitado interesse.
Correndo o risco de ser injusta, admito que guardei o jornal para ler a entrevista com Pérez-Reverte. Os bons jornalistas que o DN tem continuarão seguramente a fazer bons trabalhos. O que me assustou, facto que confirmei com uma cuidada leitura da edição de sábado, foi a linha editorial do jornal e que, presumo, resuma já o estilo do seu novo director. João Marcelino, que já vi ser chamado de Mourinho dos jornais, tem uma passado de sucesso na imprensa. O sucesso, sublinhe-se, visto do ponto de vista comercial, das vendas. O Correio da Manhã e a Sábado são, disso, dois bons exemplos. Com este DN, João Marcelino não terá, com elevada probabilidade, dificuldades em repetir a façanha. Os objectivos das vendas serão, provavelmente, atingidos. Sendo os jornais detidos por empresas, devem aqueles preocuparem-se em ser rentáveis, em serem, eles próprios, verdadeiros projectos empresariais. Acumular prejuízos poderá resultar, mais dia menos dia, no seu desaparecimento. É o mercado. Os jornais fazem, afinal, aquilo que os leitores pedem. Só assim terão sucesso comercial. Que pena! Não é este DN que me interessa! A culpa, se existe, desta minha desilusão não será, porventura, de João Marcelino, mas antes dos poucos leitores de jornais, pouco exigentes. É o que temos!

sábado, 14 de abril de 2007

Bang Bang

Nancy Sinatra

sexta-feira, 13 de abril de 2007

Intrigante

Paulo Teixeira Pinto completou a primeira semana da OPA e não mexeu uma palha. A oferta sobre o BPI aparenta estar tão ou mais moribunda do que quando foi registada pela CMVM. Dia que, curiosamente, o presidente do BCP assinalou como o do verdadeiro início da batalha. E, apesar do estado agonizante da OPA, Paulo Teixeira Pinto revela, em público, uma aparente despreocupação sobre o assunto. Os jornalistas têm sido chamados para conferências de imprensa, mas o tema OPA é tabu. O que pretenderá o banqueiro com este silêncio? Proteger-se da derrota que já teme? Ou criar uma aura de mistério que permita manter a chama acesa até ao último minuto? Intrigante, mas pouco convincente.

Os livros que eu preciso

"Quando isto sucedeu lutava com um, tinha outro pronto, já antigo, pronto há um ano e tal, para Outubro. Para dar tempo aos tradutores de o traduzirem e saírem mais ou menos na mesma altura que em Portugal. Esse livro tem a melhor prosa que fiz até hoje, parece recitado por um anjo. Aquele em que trabalhava é apenas um embrião, cerca de metade do primeiro esboço, falta-lhe quase tudo." 'António Lobo Antunes, in Visão 12 de Abril de 2007'

http://www.publico.clix.pt/docs/imagens/loboantunes/index.html

quinta-feira, 12 de abril de 2007

António Lobo Antunes


Estranhei a sua ausência, a falta da sua Crónica na "Visão", mas, sinceramente, pensei que lhe tinha faltado a vontade. Fiquei desapontada porque é a primeira coisa que leio na revista, mas não me inquietei. Na próxima semana já volta e, entretanto, continuo com o "Ontem Não Te Vi Em Babilónia". Sempre à noite, antes de dormir, com a casa já sossegada.
Hoje, deram-me a "Visão" para as mãos para que lesse a crónica de António Lobo Antunes. Disse que leria mais tarde, porque gosto de o fazer com calma, descansada. "Lê!", voltaram-me a dizer. E li, um pouco a contragosto. Não era o meu momento. E fiquei com medo. E fiquei emocionada. E vou voltar a ler. E fiquei inquieta. E fiquei esperançada. Sei que António Lobo Antunes, o meu escritor, ainda vai terminar todos os livros que tem na cabeça e outros mais que se seguirão. O Henrique vai tratar o cancro. António Lobo Antunes já está em casa. Vai tudo passar. Logo à noite, voltamos a encontrar-nos.

Parecer e ser




José Sócrates não surpreendeu e na entrevista à RTP refutou todas as acusações, surgiu tranquilo, confiante e garantiu que não teve nenhum privilégio pelo cargo que ocupava na altura em que ingressou na Universidade Independente. Não era de esperar outra coisa. E convenceu? Estaria a mentir se dissesse que deixei de ter suspeitas, que deixei de ter dúvidas. Ainda que não exista nenhuma prova contundente e que, por isso, Sócrates mantenha nota positiva no teste ao seu carácter, no que a este aspecto diz respeito, persistem alguns aspectos confusos, algumas incongruências e coisas mal explicadas. Mas uma vez, sublinho, o que está em causa não é se o primeiro-ministro é engenheiro ou veterinário. O que importa é afastar qualquer possibilidade de Sócrates ter sido beneficiado na obtenção da sua licenciatura. Aos jornalistas, competirá prosseguir o trabalho de investigação. Nem que seja para chegar à conclusão de que, afinal, nada de tortuoso ocorreu e que Sócrates sempre foi um estudante honrado.

quarta-feira, 11 de abril de 2007

O silêncio de Sócrates

Decorreu mais um debate, na SIC Notícias, sobre o silêncio de Sócrates a propósito do intrincado e obscuro caso do seu grau académico. Ricardo Costa, ágil e inteligente, conduziu a discussão entre José Manuel Fernandes, director do Público, Francisco Sarsfield Cabral, director da Rádio Renascença, João Garcia, subdirector do Expresso, e João Marcelino, que, recentemente, assumiu a direcção do Diário de Notícias. Mais uma vez ficou vincada a sobranceria deste Governo e, em particular, do primeiro-ministro, em relação aos temas que não fazem parte da sua desejada agenda, as lamentáveis tentativas de manipulação da comunicação social, o nervosismo e o ziguezaguiar do Governo neste 'dossier', bem como o inexplicável e contraproducente silêncio de Sócrates. As dúvidas e as suspeitas, essas não desapareceram, antes pelo contrário, avolumaram-se.

Estranho foi, sem dúvida, a tese de João Marcelino. O ex-director do Correio da Manhã, que se autonomeou de contraponto no debate, desvalorizou, através de uma atitude frequentemente agressiva, as notícias e os detalhes que se foram sabendo, através das importantes investigações jornalísticas conduzidas pelo Público e pelo Expresso, sobre a forma como José Sócrates completou a sua licenciatura na Universidade Independente. Incompreensível. As dúvidas que existem, neste momento, sobre o diploma do primeiro-ministro são do interesse público. Não é uma questão da vida pessoal de um qualquer cidadão. Não é indiferente saber se José Sócrates mentiu e muito menos se, por ser membro do Governo, foi privilegiado na conclusão da sua licenciatura. A ser verdade, tal seria de uma gravidade que comprometeria a honestidade e a dignidade de José Sócrates, que, por um mero acaso, até é o primeiro-ministro de Portugal.
É que, como não existem almoços grátis, se Sócrates tiver sido favorecido, a Independente também poderá ter ganho alguma coisa.

Dúvidas e mais dúvidas, muitas suspeitas, que temo não consigam ser eliminadas na entrevista do primeiro-ministro à RTP. Conseguirão José Alberto Carvalho e Maria Flor Pedroso, excelentes jornalistas, perante as vicissitudes e pressões do directo em televisão, combater a oratória de Sócrates? O primeiro-ministro chegará com as perguntas e com as respostas perfeitamente alinhadas e é conhecida a sua habilidade para conduzir e liderar, a seu favor, uma discussão. Não terá sido por acaso que esta foi a forma escolhida para o chefe do Governo quebrar o seu tabu. Em conferência de imprensa, seria bem mais difícil controlar as perguntas e mais fácil revelar a sua irascibilidade.

60 minutos de tempo de antena. Mais importante do que saber se Sócrates é um engenheiro completo, irrelevante para exercer as funções de primeiro-ministro – até podia ser veterinário –, será esclarecer comportamentos, procedimentos e testar a seriedade e carácter de quem governa o país.

Outro tanto é a forma como é regulado o ensino em Portugal e, em particular, algumas universidades privadas. Nada como um choque para nos fazer despertar para a miséria.

A tortuosidade de Cavaco

Cavaco Silva promulgou a lei do aborto mas deixou as suas preocupações e sugestões, as suas ideias para melhorar a versão final do diploma. Uma delas consiste em informar, na consulta médica, a mulher "sobre o nível de desenvolvimento do embrião, mostrando-se-lhe a respectiva ecografia, sobre os métodos utilizados para a interrupção da gravidez e sobre as possíveis consequências desta para a sua saúde física e psíquica".
É absolutamente insultuosa a sugestão da imagem, a confrontação da mulher com retratos de uma ecografia. Uma medida gratuita, chocante e absolutamente humilhante e, ainda por cima, inútil, que sugere um acto de pura chantagem emocional. Já agora, pretenderá Cavaco Silva que a imagem seja ampliada e até emoldurada, dependendo a cor da moldura do sexo do feto? E já agora porque não juntar som? Não será, senhor Presidente da República mais sugestivo e, do seu ponto de vista, mais eficaz juntar à imagem o som? A batida do coração é, garanto-lhe, mais forte, do ponto de vista emocional, para uma mãe. Terá, o senhor Cavaco Silva uma ideia dos efeitos sobre a saúde física e psíquica de uma mulher de uma situação destas? Acredito que não. Gostaria de saber onde se terá inspirado para defender tal medida de tortura com tamanho requinte de malvadez.

Outra preocupação manifestada pelo Presidente Cavaco Silva é a de que os médico objectores de consciência não sejam excluídos de dar as consultas prévias à interrupção da gravidez.
Saberá o senhor Presidente da República o que é a objecção de consciência? Saberá que é um direito reconhecido aos cidadãos que, por razões de ordem religiosa, moral, humanística ou filosófica, não concebem a prática de determinados actos e que, tal, merece ser respeitado. Estou certa que sim. Será por isso, por saber do que se trata, que defende o confronto entre os objectores de consciência e as mulheres que pretendem abortar?

Estamos de acordo que o aborto deve ser evitado, mas já basta de tortura!

segunda-feira, 9 de abril de 2007

Começar

Vou começar, dentro de minutos, a ler outro livro. Ver a sua capa, abri-lo, sentir o papel, descobrir os pormenores da ficha técnica, a dedicatória e começar a lê-lo. Que prazer! Escolhi da pilha que me aguarda, o 'Ontem Não Te Vi Em Babilónia' do Lobo Antunes.

domingo, 8 de abril de 2007

Bobos da Corte





Nunca consegui entender os que gostam de branco porque não gostam de preto, os que não têm clube mas são anti-Benfica, os que bebem cerveja apenas porque os outros bebem, os que continuam a ler um livro porque não concebem a ideia de o fechar ainda que não estejam a gostar, os que respondem mais ou menos porque não têm coragem de dizer não, os que não escolhem, os que não se comprometem, os que vivem só porque estão vivos, os Bobos desta Vida.

Telejornais

Foi, no mínimo, confrangedor ver os telejornais de hoje. A ausência de notícias ou a sua desvalorização entupiu o espaço informativo de 'fait divers' e de histórias irrelevantes. Não foi, seguramente, inédito nas televisões portuguesas em dias feriados, mas hoje roçou o absurdo. Se não há o que dizer e o que mostrar porquê prolongar o programa?

sábado, 7 de abril de 2007

Terra


Magritte


Um dia de neve em Veneza. Há seis anos. Os pés gelados e uma vontade imensa de Magritte. 'Empire of Light'.

sexta-feira, 6 de abril de 2007

António Barreto - Liberdade de criticar

Recortei e guardei para reler e confesso que, em tão pouco tempo, já o fiz várias vezes. Falo do "Retrato da Semana" de António Barreto, publicado no 'Público' de dia 11 de Fevereiro.
Por tudo o que se tem passado nas últimas semanas, as palavras do sociólogo vêm mesmo a propósito. Por isso, passo a transcrever alguns excertos:

"O optimismo dos dirigentes é uma profissão de fé. Se estão em posição de poder, se mandam em alguma coisa ou alguém, se sentem segurança na sua posição social, declaram-se previsivelmente optimistas. O problema é que também entendem que os outros devem ser optimistas. E fazem o que podem para concretizar tal desejo".

(...)

"Os que tudo têm são assim: querem que os outros se sintam felizes, aconselham esperança e vendem optimismo, pois, assim, vivem em paz, sem culpa nem remorsos.
O combate pelo optimismo é uma das mais maçadoras pragas da vida pública. Se alguém escreve nos jornais ou aparece na televisão a mostrar algo errado, a criticar as filas de espera em qualquer instituição, a descrer da justiça que temos ou a mostrar repugnância pelo sistema educativo, logo é acusado de pessimista, descrente e céptico. Daí a serem denunciados como intelectuais bem pensantes e profetas da desgraça não é preciso esperar. 'Só sabem dizer mal', é a frase mais ouvida aos poderosos quando se referem a quem se exprime no espaço público".

(...)

"É verdade que a qualidade da imprensa deixa muito a desejar. (...) Mas nada disso justifica que se julgue que a imprensa poderia ser sobretudo uma folha congratulatória.
Pior ainda do que essa atitude é o esforço colossal que os governos, as instituições, as empresas e as instituições da Administração Pública fazem para dourar a pílula e cuidar da sua propaganda. Se fosse possível contá-las, são milhares as pessoas envolvidas nas 'agências de informação', nas empresas de 'relações públicas', nas assessorias de 'imprensa' ou no aconselhamento de 'imagem'. Sem contar os jornalistas reciclados em consultores e os que aceitam recados.
Eis porque vale a pena que alguns, poucos que sejam, se especializem na crítica e na explicação, quite a serem injustos, isto é, a não se preocuparem com as coisas que correm bem. Para estas últimas e para apresentar bem o que corre mal, ou para simplesmente esconder o que não corre, andam por aí milhares de profissionais, consomem-se milhões de horas de trabalho e gastam-se dezenas de milhões de euros.
É por isso que a liberdade é sobretudo a de criticar, não a de elogiar".

MELHOR SERIA DIFÍCIL!

Liberdade de Imprensa

Os jornalistas recebem, com maior ou menor frequência, consoante a sua influência, telefonemas de pessoas que querem condicionar e controlar a informação. Infelizmente, esta prática faz parte da vida de quem trabalha nas televisões, nas rádios e nos jornais, não sendo, por isso, de estranhar as recentes tentativas de censura, dirigidas pelo gabinete de José Sócrates, a propósito do 'curriculum' do primeiro-ministro.
Não foi este o primeiro Governo a tentar, nem será, seguramente, o último. Também é para isso que foram contratados, muitas vezes a peso de ouro, assessores, adjuntos e agências de comunicação. Para mostrar aos jornalistas a realidade que convém e esconder as verdades inconvientes de quem lhes paga. Sejam eles primeiro-ministros, ministros, ou empresas.
Uma realidade com a qual os jornalistas se habituaram a conviver e que revela bem quão árdua é, actualmente, a tarefa de informar.
Nos anos mais recentes, as tentativas de manipulação são, aliás, cada vez mais descaradas. Existe um dono de uma agência de comunicação que, quando tenta convencer um potencial cliente do seu poder junto da comunicação social, não se inibe de garantir que controla jornalistas e 'opinion makers' em meios-chave.
Não prevendo que a situação se altere nos tempos próximos, compete, por isso, em primeiro lugar, ao jornalista defender uma das mais nobres e importantes profissões. Resistir todos os dias. Resistir na redacção, resistir a quem está do lado de lá do telefone, mostrando, através do seu trabalho, que, afinal, o tempo gasto a pressionar, a condicionar e a influenciar de nada serviu. Resistindo e informando as verdades que vai sabendo, bochecho a bochecho.
Já falta paciência para os que criticam os jornalistas, para os que se queixam de que estes só contribuem para acentuar o pessimismo e o negativismo próprio dos portugueses e de que não ajudam a levantar a moral nacional. O que temem estas vozes que defendem o 'jornalismo positivo'? A crítica? Se é assim, temos pena. É para descobrir, para analisar, para interpretar, para informar e, também para criticar, que existem jornalistas. A crítica, com a qual Sócrates não consegue viver, é indispensável, sobretudo, para uma sociedade que parece estar cada vez mais cansada de pensar.