quinta-feira, 3 de maio de 2007

Regabofe em Lisboa


As últimas 24 horas do intrincado caso da CML revelam dois factos inegáveis: o autismo e inconsciência de Carmona Rodrigues e a falta de autoridade política de Marques Mendes.

Quanto ao primeiro, a sua teimosia em manter-se no posto, em não abandonar o "navio", como o próprio chamou à Câmara, só mostra o que já se temia. Ao contrário do que garante, Carmona Rodrigues está agarrado, amarrado, pior, obstinado com o poder. Se não é o poder que o move, pode ser o desassossego. Ui!

Não passaria pela cabeça de ninguém insistir em manter-se na presidência da CML quando o partido que o apoiou já não o quer, quando todos os seus mais firmes apoiantes já o abandonaram e, mais ainda, quando a Câmara atingiu uma situação de absoluta ingovernabilidade. Como se não bastasse tudo isto, há um risco considerável da maioria dos eleitores que o levaram à vitória já desejarem, neste momento, a sua saída.

Que tipo de autoridade e de legitimidade encontra Carmona Rodrigues para comandar os destinos da maior cidade do país? Pensará Carmona que esta situação é sustentável até às próximas eleições autárquicas? Se sim, é grave. Carmona Rodrigue está a leste da realidade.
Se não, pior. Não se consegue encontrar nenhuma vantagem pessoal em esperar pela demissão da maioria dos vereadores do PSD. Para quê? É verdade que o comandante é o último a abandonar o navio, mas, neste caso, o navio já afundou há muito tempo com comandante e tudo e Carmona Rodrigues não se deu conta.

Acresce que todo o seu argumentário de defesa é frágil. Sendo verdade que um arguido não é, necessariamente, culpado, não é menos verdade que Gabriela Seara e Fontão de Carvalho suspenderam mandatos por isso mesmo. Perante isto, já para não falar da polémica saída de Maria José Nogueira Pinto, e perante o virar de costas do PSD e as pressões da oposição, considerará Carmona que ainda existe outra saída, senão a da porta da rua?!

Rumores, meros rumores, sugerem que Carmona Rodrigues, sucessor de Santana Lopes, preocupa-se, neste momento, em tentar evitar que novos dados, mais escaldantes, saltem para cima da mesa. Será? A dúvida está instalada.

Depois, para quê justificar a vontade de ficar com o seu historial do trabalho feito? Não é isso que está em causa.

E como já vem sendo habitual, a inevitável tese da cabala. Diz Carmona Rodrigues que um dos seus principais erros foi ter comunicado mal, foi ter desprezado temas menores que a comunicação social adora. Arriscar-me-ia a dizer que foi mesmo o seu único erro.... Enfim, palavras para quê?!

Se existisse, a sua carreira política acabou e o melhor era sair com alguma dignidade e, se assim quisesse, regressar depois de terminada a investigação ao "Caso Bragaparques".

Quanto a Marques Mendes, a conclusão mais imediata que se retira é que, apesar de Universidades Independentes e outras que tais, José Sócrates continuará a ser primeiro-ministro de Portugal por muitos e bons anos. Goste-se ou não, a verdade é que, enquanto Marques Mendes for o candidato do PSD, não existe alternativa ao PS.

O líder social democrata disse ontem que, por vontade do seu partido, os cidadãos lisboetas seriam chamados a votar e, eis senão quando, poucas horas depois, Carmona Rodrigues ignora completamente esta sua decisão. Se é este o respeito que consegue de um seu quase co-religionário, Marques Mendes bem pode repensar a sua vidinha como líder partidário.
Mais. A entrevista que deu a Judite de Sousa confirmou as suas fragilidades e indecisões, a falta de alternativas sustentáveis.

Olha que dois!

1 comentário:

Anónimo disse...

A atitude de Carmona foi o menos política possível. Assemelha-se a uma criança que diz "a bola é minha e brincamos quando eu quero!". No entanto, politiquices à parte, acho que ele teve coragem em fazer o que fez e em ir contra tudo e todos. A crise política só começa agora, mas será um filme divertido de se ver...