Leitora assídua do Diário de Notícias, foi com curiosidade que folheei o novo jornal na sexta-feira, dia 13. Depois de uma primeira olhadela, encolhi os ombros. OK, está mais arejado, com grandes fotografias, textos mais pequenos, muita cor, detalhes engraçados, enfim, adaptou-se ao que os leitores querem e em linha com o que o seu concorrente mais directo, o Público, já tinha feito.
Logo a seguir, mais focada e através de uma visita guiada, apercebi-me daquilo que quem não faz jornais quase nunca se apercebe. Na primeira página, Sócrates e Cavaco juntos – o DN fala do 'poder' e com o 'poder'. A grande foto da desilusão benfiquista após o afastamento da Taça UEFA. O detalhe do crocodilo que ataca – a mão de um homem dentro da sua bocarra –: "Veja o que aconteceu ao dono desde braço". A primeira dupla de páginas repleta de rostos e citações. Na página 7, a opinião da suposta mulher de Sócrates, a jornalista Fernanda Câncio. Na 9, a realidade, o dia-a-dia espelhado num violento acidente automóvel. E, nas páginas seguintes, uma enxurrada de notícias de crimes e tragédias. Muitas, demasiadas. E, não esquecer, um suplemento dedicado ao desporto, onde o futebol, desporto-rei, tem um lugar de destaque. Não encontrei, com excepção de António Vitorino, ninguém cuja opinião me tivesse suscitado interesse.
Correndo o risco de ser injusta, admito que guardei o jornal para ler a entrevista com Pérez-Reverte. Os bons jornalistas que o DN tem continuarão seguramente a fazer bons trabalhos. O que me assustou, facto que confirmei com uma cuidada leitura da edição de sábado, foi a linha editorial do jornal e que, presumo, resuma já o estilo do seu novo director. João Marcelino, que já vi ser chamado de Mourinho dos jornais, tem uma passado de sucesso na imprensa. O sucesso, sublinhe-se, visto do ponto de vista comercial, das vendas. O Correio da Manhã e a Sábado são, disso, dois bons exemplos. Com este DN, João Marcelino não terá, com elevada probabilidade, dificuldades em repetir a façanha. Os objectivos das vendas serão, provavelmente, atingidos. Sendo os jornais detidos por empresas, devem aqueles preocuparem-se em ser rentáveis, em serem, eles próprios, verdadeiros projectos empresariais. Acumular prejuízos poderá resultar, mais dia menos dia, no seu desaparecimento. É o mercado. Os jornais fazem, afinal, aquilo que os leitores pedem. Só assim terão sucesso comercial. Que pena! Não é este DN que me interessa! A culpa, se existe, desta minha desilusão não será, porventura, de João Marcelino, mas antes dos poucos leitores de jornais, pouco exigentes. É o que temos!