domingo, 15 de abril de 2007

O novo Diário de Notícias

Leitora assídua do Diário de Notícias, foi com curiosidade que folheei o novo jornal na sexta-feira, dia 13. Depois de uma primeira olhadela, encolhi os ombros. OK, está mais arejado, com grandes fotografias, textos mais pequenos, muita cor, detalhes engraçados, enfim, adaptou-se ao que os leitores querem e em linha com o que o seu concorrente mais directo, o Público, já tinha feito.
Logo a seguir, mais focada e através de uma visita guiada, apercebi-me daquilo que quem não faz jornais quase nunca se apercebe. Na primeira página, Sócrates e Cavaco juntos – o DN fala do 'poder' e com o 'poder'. A grande foto da desilusão benfiquista após o afastamento da Taça UEFA. O detalhe do crocodilo que ataca – a mão de um homem dentro da sua bocarra –: "Veja o que aconteceu ao dono desde braço". A primeira dupla de páginas repleta de rostos e citações. Na página 7, a opinião da suposta mulher de Sócrates, a jornalista Fernanda Câncio. Na 9, a realidade, o dia-a-dia espelhado num violento acidente automóvel. E, nas páginas seguintes, uma enxurrada de notícias de crimes e tragédias. Muitas, demasiadas. E, não esquecer, um suplemento dedicado ao desporto, onde o futebol, desporto-rei, tem um lugar de destaque. Não encontrei, com excepção de António Vitorino, ninguém cuja opinião me tivesse suscitado interesse.
Correndo o risco de ser injusta, admito que guardei o jornal para ler a entrevista com Pérez-Reverte. Os bons jornalistas que o DN tem continuarão seguramente a fazer bons trabalhos. O que me assustou, facto que confirmei com uma cuidada leitura da edição de sábado, foi a linha editorial do jornal e que, presumo, resuma já o estilo do seu novo director. João Marcelino, que já vi ser chamado de Mourinho dos jornais, tem uma passado de sucesso na imprensa. O sucesso, sublinhe-se, visto do ponto de vista comercial, das vendas. O Correio da Manhã e a Sábado são, disso, dois bons exemplos. Com este DN, João Marcelino não terá, com elevada probabilidade, dificuldades em repetir a façanha. Os objectivos das vendas serão, provavelmente, atingidos. Sendo os jornais detidos por empresas, devem aqueles preocuparem-se em ser rentáveis, em serem, eles próprios, verdadeiros projectos empresariais. Acumular prejuízos poderá resultar, mais dia menos dia, no seu desaparecimento. É o mercado. Os jornais fazem, afinal, aquilo que os leitores pedem. Só assim terão sucesso comercial. Que pena! Não é este DN que me interessa! A culpa, se existe, desta minha desilusão não será, porventura, de João Marcelino, mas antes dos poucos leitores de jornais, pouco exigentes. É o que temos!

2 comentários:

Anónimo disse...

O novo DN está com um estilo muito aproximado do Correio da Manhã, o que não é motivo de admiração. Não é o estilo que aprecio, mas também já não apreciava muito o antigo: muito denso, muito institucional, muito formal.
A última direcção conseguiu apresentar um bom produto e, sobretudo, um suplemente de economia que se impôs praticamente como leitura obrigatória. Mas essa qualidade não fez vender mais jornais.
A pressão das vendas e dos resultados impuseram um caminho novo para o DN. Uma mudança enorme. Perante isto fico apenas com uma dúvida: será que o tradicional e diário leitor do DN dos ultimos anos vai manter-se fiel e continuar a comprar um produto com qual, provavelmente, ja nao se identifica? Serão que irão ser mais os leitores que se ganham do que os que potencialmente se poderão perder?

MBA disse...

Hoje, domingo, trabalhei no jornal. Fomos visitados por uma colega que já passou por lá. Já de saída, comentámos um amigo comum no DN, e o jornal (fantástico como os jornaleiros adoram falar de jornais...). Ela contou-me que costumavam, na redacção dela, seleccionar títulos do DN e depois enviar por mail para o tal amigo comum que trabalha no DN. Passado uns tempos, deixaram de ter tempo para seleccionar os melhores (leia-se piores). Vem isto a propósito de um plano que tem o Papa de um lado e na página ímpar o título "Sexo oral aumenta hipóteses de cancro na garganta". Palavras para quê? Daqui a uns meses está a vender tanto como o Correio da Manhã. E isso é uma tristeza, porque mostra bem o país que temos...