quarta-feira, 11 de abril de 2007

A tortuosidade de Cavaco

Cavaco Silva promulgou a lei do aborto mas deixou as suas preocupações e sugestões, as suas ideias para melhorar a versão final do diploma. Uma delas consiste em informar, na consulta médica, a mulher "sobre o nível de desenvolvimento do embrião, mostrando-se-lhe a respectiva ecografia, sobre os métodos utilizados para a interrupção da gravidez e sobre as possíveis consequências desta para a sua saúde física e psíquica".
É absolutamente insultuosa a sugestão da imagem, a confrontação da mulher com retratos de uma ecografia. Uma medida gratuita, chocante e absolutamente humilhante e, ainda por cima, inútil, que sugere um acto de pura chantagem emocional. Já agora, pretenderá Cavaco Silva que a imagem seja ampliada e até emoldurada, dependendo a cor da moldura do sexo do feto? E já agora porque não juntar som? Não será, senhor Presidente da República mais sugestivo e, do seu ponto de vista, mais eficaz juntar à imagem o som? A batida do coração é, garanto-lhe, mais forte, do ponto de vista emocional, para uma mãe. Terá, o senhor Cavaco Silva uma ideia dos efeitos sobre a saúde física e psíquica de uma mulher de uma situação destas? Acredito que não. Gostaria de saber onde se terá inspirado para defender tal medida de tortura com tamanho requinte de malvadez.

Outra preocupação manifestada pelo Presidente Cavaco Silva é a de que os médico objectores de consciência não sejam excluídos de dar as consultas prévias à interrupção da gravidez.
Saberá o senhor Presidente da República o que é a objecção de consciência? Saberá que é um direito reconhecido aos cidadãos que, por razões de ordem religiosa, moral, humanística ou filosófica, não concebem a prática de determinados actos e que, tal, merece ser respeitado. Estou certa que sim. Será por isso, por saber do que se trata, que defende o confronto entre os objectores de consciência e as mulheres que pretendem abortar?

Estamos de acordo que o aborto deve ser evitado, mas já basta de tortura!

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