sexta-feira, 6 de abril de 2007

António Barreto - Liberdade de criticar

Recortei e guardei para reler e confesso que, em tão pouco tempo, já o fiz várias vezes. Falo do "Retrato da Semana" de António Barreto, publicado no 'Público' de dia 11 de Fevereiro.
Por tudo o que se tem passado nas últimas semanas, as palavras do sociólogo vêm mesmo a propósito. Por isso, passo a transcrever alguns excertos:

"O optimismo dos dirigentes é uma profissão de fé. Se estão em posição de poder, se mandam em alguma coisa ou alguém, se sentem segurança na sua posição social, declaram-se previsivelmente optimistas. O problema é que também entendem que os outros devem ser optimistas. E fazem o que podem para concretizar tal desejo".

(...)

"Os que tudo têm são assim: querem que os outros se sintam felizes, aconselham esperança e vendem optimismo, pois, assim, vivem em paz, sem culpa nem remorsos.
O combate pelo optimismo é uma das mais maçadoras pragas da vida pública. Se alguém escreve nos jornais ou aparece na televisão a mostrar algo errado, a criticar as filas de espera em qualquer instituição, a descrer da justiça que temos ou a mostrar repugnância pelo sistema educativo, logo é acusado de pessimista, descrente e céptico. Daí a serem denunciados como intelectuais bem pensantes e profetas da desgraça não é preciso esperar. 'Só sabem dizer mal', é a frase mais ouvida aos poderosos quando se referem a quem se exprime no espaço público".

(...)

"É verdade que a qualidade da imprensa deixa muito a desejar. (...) Mas nada disso justifica que se julgue que a imprensa poderia ser sobretudo uma folha congratulatória.
Pior ainda do que essa atitude é o esforço colossal que os governos, as instituições, as empresas e as instituições da Administração Pública fazem para dourar a pílula e cuidar da sua propaganda. Se fosse possível contá-las, são milhares as pessoas envolvidas nas 'agências de informação', nas empresas de 'relações públicas', nas assessorias de 'imprensa' ou no aconselhamento de 'imagem'. Sem contar os jornalistas reciclados em consultores e os que aceitam recados.
Eis porque vale a pena que alguns, poucos que sejam, se especializem na crítica e na explicação, quite a serem injustos, isto é, a não se preocuparem com as coisas que correm bem. Para estas últimas e para apresentar bem o que corre mal, ou para simplesmente esconder o que não corre, andam por aí milhares de profissionais, consomem-se milhões de horas de trabalho e gastam-se dezenas de milhões de euros.
É por isso que a liberdade é sobretudo a de criticar, não a de elogiar".

MELHOR SERIA DIFÍCIL!

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