quarta-feira, 11 de abril de 2007

O silêncio de Sócrates

Decorreu mais um debate, na SIC Notícias, sobre o silêncio de Sócrates a propósito do intrincado e obscuro caso do seu grau académico. Ricardo Costa, ágil e inteligente, conduziu a discussão entre José Manuel Fernandes, director do Público, Francisco Sarsfield Cabral, director da Rádio Renascença, João Garcia, subdirector do Expresso, e João Marcelino, que, recentemente, assumiu a direcção do Diário de Notícias. Mais uma vez ficou vincada a sobranceria deste Governo e, em particular, do primeiro-ministro, em relação aos temas que não fazem parte da sua desejada agenda, as lamentáveis tentativas de manipulação da comunicação social, o nervosismo e o ziguezaguiar do Governo neste 'dossier', bem como o inexplicável e contraproducente silêncio de Sócrates. As dúvidas e as suspeitas, essas não desapareceram, antes pelo contrário, avolumaram-se.

Estranho foi, sem dúvida, a tese de João Marcelino. O ex-director do Correio da Manhã, que se autonomeou de contraponto no debate, desvalorizou, através de uma atitude frequentemente agressiva, as notícias e os detalhes que se foram sabendo, através das importantes investigações jornalísticas conduzidas pelo Público e pelo Expresso, sobre a forma como José Sócrates completou a sua licenciatura na Universidade Independente. Incompreensível. As dúvidas que existem, neste momento, sobre o diploma do primeiro-ministro são do interesse público. Não é uma questão da vida pessoal de um qualquer cidadão. Não é indiferente saber se José Sócrates mentiu e muito menos se, por ser membro do Governo, foi privilegiado na conclusão da sua licenciatura. A ser verdade, tal seria de uma gravidade que comprometeria a honestidade e a dignidade de José Sócrates, que, por um mero acaso, até é o primeiro-ministro de Portugal.
É que, como não existem almoços grátis, se Sócrates tiver sido favorecido, a Independente também poderá ter ganho alguma coisa.

Dúvidas e mais dúvidas, muitas suspeitas, que temo não consigam ser eliminadas na entrevista do primeiro-ministro à RTP. Conseguirão José Alberto Carvalho e Maria Flor Pedroso, excelentes jornalistas, perante as vicissitudes e pressões do directo em televisão, combater a oratória de Sócrates? O primeiro-ministro chegará com as perguntas e com as respostas perfeitamente alinhadas e é conhecida a sua habilidade para conduzir e liderar, a seu favor, uma discussão. Não terá sido por acaso que esta foi a forma escolhida para o chefe do Governo quebrar o seu tabu. Em conferência de imprensa, seria bem mais difícil controlar as perguntas e mais fácil revelar a sua irascibilidade.

60 minutos de tempo de antena. Mais importante do que saber se Sócrates é um engenheiro completo, irrelevante para exercer as funções de primeiro-ministro – até podia ser veterinário –, será esclarecer comportamentos, procedimentos e testar a seriedade e carácter de quem governa o país.

Outro tanto é a forma como é regulado o ensino em Portugal e, em particular, algumas universidades privadas. Nada como um choque para nos fazer despertar para a miséria.

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